sábado, 16 de julho de 2011

A arte de esquecer

«Ao contrário, a arte de esquecer a inutilidade em que se traduz a maior parte das inquietações que consomem o nosso tempo, reduz as recordações a tão pouco que muitas vezes se contam num gesto, e sem palavras.»
[Adriano Moreira, A Espuma do Tempo, Almedina, Coimbra, 2008, pág.9]


«Vai amigo,
Não há perigo que hoje possa assustar.
Não se iluda,
Que nada muda se você não mudar.
Ponha alguma na sacola,
Não esqueça a viola,
Mas esqueça o que puder,
E cante que é bom viver.
Rasgue as coisas velhas da lembrança
Seja um pouco de criança,
Faça tudo o que quiser,
E cante que é bom viver.
Vai amigo,
Não há perigo que hoje possa assustar.
Não se iluda,
Que nada muda se você não mudar.»

[Maria Eugênia, Companheiro]

terça-feira, 12 de julho de 2011

The importance of being Him

«Tudo o que fazemos sem Ele é, em última análise, agitação e moralismo.»

Cónego João Seabra, Homília da missa das 19h, Igreja da Encarnação do Chiado, 23/06/2011

domingo, 10 de julho de 2011

sábado, 9 de julho de 2011

Olhando a fotografia/Fotografando o olhar...


"Ali estavam os dois, em silêncio, no meio da festa. Frente-a-frente, olhos nos olhos, com o sorriso cúmplice de quem partilha um segredo, fixavam-se como quem fixa o seu mundo; contemplavam-se como quem encontrou a sua razão de viver.
Agora, aqui, passados já seis meses desde que se encontraram, se cruzaram e se seguiram para não mais se separar, não trocavam palavras, apenas olhares. Parados no meio da multidão, para eles não havia mais ninguém, mais nada. Apenas eles, só eles..."
[Caude Monet, Le déjeuner sur l'herbe (parte central), 1865]

sexta-feira, 8 de julho de 2011

O Perigo de Viver

«Passava como uma navalha através de tudo; e, ao mesmo tempo, ficava de fora, a olhar. Tinha a perpétua sensação, enquanto olhava os carros, de estar fora, longe e sozinha, no meio do mar; sempre sentira que era muito, muito perigoso viver, por um só dia que fosse.»


[Virginia Woolf, Mrs Dalloway, Livros do Brasil, Lisboa, 1950, pág.10]

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Maria José Nogueira Pinto 1952 - 2011

Maria José da Cunha Avillez Nogueira Pinto
23 de Março de 1952 - 6 de Julho de 2011

quarta-feira, 6 de julho de 2011

terça-feira, 5 de julho de 2011

Agridoce

«Foi um processo longo e difícil, como sempre o são as aproximações entre duas pessoas habituadas a estarem sozinhas.

Primeiro parece fácil, é o coração que arrasta a cabeça, a vontade de ser feliz que cala as dúvidas e os medos. Mas depois é a cabeça que trava o coração, as pequenas coisas que parecem derrotar as grandes, um sufoco inexplicável que parece instalar-se onde dantes estava a intimidade. É preciso saber passar tudo isso e conseguir chegar mais além, onde a cumplicidade - de tudo, o mais difícil de atingir - os torna verdadeiramente amantes.»

[Miguel Sousa Tavares, Não te deixarei morrer, David Crockett, 11ºEdição, Oficina do Livro, Lisboa, 2001, pág.4]

segunda-feira, 4 de julho de 2011

S. M. o Imperador Otto Habsburg 1912 - 2011

S. M. I. Francisco José Otão Roberto Maria António Carlos Maximiliano Henrique Sixto Xavier Félix Renato Luís Caetano Pio Inácio
20 de Novembro de 1912 - 4 de Julho de 2011

domingo, 3 de julho de 2011

Inesperados

Ele chorava por a ver cometer erros tão estúpidos. E chorava ainda mais por ela não chorar ao ver a tristeza, o sofrimento e a dor que esse erros lhe causavam... E, por isso, rezava, para que Deus lhe concedesse a graça, não da comoção da alma dela, mas da força que ele precisava para lidar com a falta dela.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

A margem de contingência da nossa vida

«Ela serve para ilustrar, de forma particularmente poética e particularmente incisiva, que existe uma parte da nossa vida que escapa ao nosso desejo, ao nosso controlo, à nossa simples vontade. Podemos conhecer a linguagem do mar. Podemos conhecer o barco em que navegamos. Podemos conhecer a tripulação que nos acompanha. Podemos até alimentar uma chama de confiança que não se apaga com os primeiros ventos. Mas existe sempre uma margem de imponderabilidade - a doença que surge, o mar que se revolta, a tempestade que subitamente se abate sobre a nossa embarcação - e que afecta o que fazemos e não fazemos. Mais ainda: que afecta o resultado do que fazemos e não fazemos - podendo, até, justificar as nossas acções. Na vida humana, e na vida em sociedades humanas, nem tudo depende da nossa exclusiva vontade. Independentemente da nossa vontade, e por vezes contrária a ela, existe uma margem que não prevemos, não controlamos e não dominamos».

[João Pereira Coutinho, Sorte e Política, in Actas do II Congresso de Ciência Política, pág.608]

quinta-feira, 30 de junho de 2011

O Peso do Passado



«não é possivel planear o futuro fixados no passado»

[Edmund Burke, citado há poucos minutos no Parlamento Português no Debate Parlamentar sobre o Programa de Governo]

quarta-feira, 29 de junho de 2011

O que é importante

«Tolstoi é talvez o primeiro a propor a famosa acusação que Virginia Woolf meio século mais tarde dirigiu contra os profetas públicos da sua geração - Shaw, Wells e Arnold Bennett - materialistas cegos que não perceberam que os seus acidentes exteriores, os aspectos sem importância extrínsecos à alma individual - as chamadas realidades sociais, económicas e políticas - com o que é realmente genuíno, a experiência individual, as relações específicas dos indivíduos entre si, as cores, cheiros, sabores, sons e movimentos, as invejas, amores, ódios, paixões, os raros lampejos de visão arguta, os momentos de viragem, a sucessão normal e diária de dados particulares que constituem tudo o que existe - e que são a realidade.»

[Isaiah Berlin, O Ouriço e a Raposa, in A Apoteose da Vontade Romântica, Bizâncio, Lisboa, 1999, pág.226]

terça-feira, 28 de junho de 2011

O encontro

«Nunca ninguém me falara de Cristo como ele me falava: na sua amizade, e na companhia que ela gerou e gera na história, verifiquei a verdade do Evangelho como resposta ao desejo mais veemente do meu ser homem. Comecei então a desejar pregar como ele- com a paixão pelo humano, a abertura cultural, a certeza de Cristo presente, o amor à Igreja que repassam cada uma das suas palavras; tentei imitá-lo, na escolha dos temas, nos autores e passagens citados, aténa entoação. Parecerá pueril a quem não tem a graça de poder na sua vida seguir assim um mestre e um pai. A mim, sei que me ajudou a pregar melhor - e é a menor das coisas em que me ajudou».

[João Seabra, Directo ao Assunto, Lucerna, Estoril, 2003, pág.8]

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Life


«You cannot find peace by avoinding life, Leonard.»

[said Virginia Woolf in The Hours, 2002]

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Redenção


E a velha olhava pela janela, e dizia tentando consolar o pequeno:
- Afinal de contas, haverá alguma coisa a que não nos habituemos nesta vida?

quarta-feira, 22 de junho de 2011

As nossa decisões

«Ou sim ou não. Cada um é único. Tem aquele seu encontro com o descontentamente que se arrepende e repete. Porque nada serve. Nem coisas, nem plantas, nem bichos, nem homens. É tudo para substituir. Fugaz. Improvável. Mas sem renúncia.»

[Adriano Moreira, Tempo de Vésperas]

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Esteves Cardoso


«Mais do que o sexo ou a nacionalidade, mais do que as ideias literárias, estéticas ou políticas, é a idade que mais aproxima o leitor de quem lê.»

[Miguel Esteves Cardoso, Com a mesma idade, Público, Sexta-Feira, 17 de Junho de 2011, pág.41]

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Dia de Leopold

Hoje Ulysses e Joyce saem à rua para dar vida a Leopold Bloom. É o Bloomsday - o único dia do mundo dedicado apenas a uma obra literária.

Quem diria que um homem pode viver apenas um dia, durante tantos anos?

terça-feira, 14 de junho de 2011

Ezra Pound


«Se vocês quiserem estudar o romance, leiam o que houver de melhor no gênero.»

[Ezra POUND, Abc da literatura. Organização e tradução: Augusto de Campos e José Paulo Paes. 11.ed. São Paulo: Cultrix, 2006, p.84]

quarta-feira, 8 de junho de 2011

She said

«She said "I can't hold you much longer, getting weaker", she said
As she fades into the dark now, now how scary is that?»

[David Fonseca, (Baby) All I Ever Wanted]

terça-feira, 7 de junho de 2011

Life is Life II

Temos pena que a chuva não nos lave a alma, não nos limpe, como faz às ruas da cidade, onde a sua passagem vai arrastando o lixo que se encontra a cada recanto de cada rua.
Porque não me lavas a alma? Porque me ficam estas manchas, estas dores?
Escrevo ao ritmo de Philip Glass, ao som de Mad Rush. A vida prossegue sucessivamente como as notas e as teclas que o pianista electricamente, freneticamente, toca. Vem-me à memória Thomas Mann. E no meio da loucura insana, da velocidade estonteante do dia-a-dia, de vez em quando, caímos: é a realidade que pára para nós. Não é o tempo, não. É a vida. Porque o tempo continua, quando eu estou aqui sentado. São as páginas dos livros que não se viram. São as folhas que não caiem das árvores. Só as rugas aumentam na vida estagnada. Amo-te, amo-te, amo-te. E, sem ti, a minha vida pára. Sem ti, as rugas aparecerão, as folhas cairão, o tempo passará, a morte chegará. Mas as páginas, as minhas páginas, as páginas do meu livro continuarão em branco. Sim, o tempo arrasta-se, mas o meu papel, o papel que sou eu, permanece em branco. E que pode justificar a existência nessas circunstâncias?
Não, não terei vivido bem. Tirei os olhos da razão. Embrenhei-me no supérfluo. Esqueci-me da confissão. Cai na depressão. E, claramente, - claramente, - tenho que arranjar qualquer coisa para fazer.
Sim, tenho. Sim, vou! Eu ainda aqui estou!

Life is Life

«Descobriu um humanismo pessimista que está familiarizado com a tragédia e com as limitações da existência humana. Doença e morte fazem parte da vida e não podem negar-se: fornecem-nos um entendimento mais profundo das experiências da nossa existência do que a razão, só por si, pode proporcionar. Mas também aprendeu que, por causa da bondade e do amor, podemos impedir que a doença e a morte, esses poderes obscuros, governem os nossos pensamentos. Aprendeu a admirar a vitalidade da vida mas também a noção de que a vida carece sempre de um correctivo moral, que é oferecido pelo espírito humano.»

Rob Riemen, Nobreza de Espírito, Bizâncio, Lisboa, 2011, Pág. 57

domingo, 5 de junho de 2011

As nossas razões

Todos temos as nossas razões para dizer sim ou não aquilo que se apresenta como a verdade. São razões do nosso coração, que tem por base o que vêem ou o que viram, que lhes gerou descrença ou confiança. Mas todos temos as nossas razões: elas são uma exigência da vida social. E podem ser discutidas ou não, consoante se deseja a paz ou a guerra, a continuidade ou o fim. (Tendencialmente) Respectivamente.

Telepatia

Ontem, a esta hora, nós estavamos assim...

Eyes in the road

Deixem-me ser claro: eu não percebo nada da vida, nem sei para onde caminhamos. Simplesmente, vou seguindo o meu caminho. E tomo notas.

Luciano Amaral




«Os últimos trinta anos do regime autoritário cosrresponderam ao melhor período de crescimento económico de toda a História de Portugal. Mas de 1974 em diante deu-se um abrandamento acentuado. A transição entre um regime e outro foi especialmente complicada graças à associação da grave crise internacional dos anos 70 (...) e a crise nacional.»

Luciano Amaral, Economia Portuguesa, As Últimas Décadas, FFMS, 2010, pág. 20

sábado, 4 de junho de 2011

Biblioteca João Pereira Coutinho

A BUSCA DA VERDADE
‘Nobreza de Espírito: Um Ideal Esquecido’ o livro do filósofo holandês Rob Riemen explica que para mudar o mundo teremos de começar por nós.
Por: João Pereira Coutinho

A Editorial Bizâncio está de parabéns: é preciso sabedoria e coragem para publicar este ‘Nobreza de Espírito: Um Ideal Esquecido’, tratado filosófico que Rob Riemen escreveu em 2008. Mas sabedoria e coragem fazem parte da nobreza de que fala o título. Os editores da Bizâncio estão no caminho certo.
E nós? Nós, infelizmente, vivemos ainda na ressaca de dois extremos. Quando falamos em ‘nobreza’, os partidários do primeiro extremo abraçam-se à nobreza de berço, ou de sangue, que nobilita o indivíduo pela força dos genes. ‘Nobre’ é nascer nobre, uma classificação que foi perdendo sentido e lugar na era igualitária em que vivemos e que Tocqueville já profetizara na sua célebre viagem pela América.
No extremo oposto, encontramos uma outra forma de nobreza: a nobreza do vil metal, para a qual a dimensão de um homem funde-se e confunde-se com o tamanho da sua conta bancária. Eis uma versão caricatural do ‘self-made man’, para o qual a sorte ou a mera imperfeição humana não têm qualquer valor. Somos o que conseguimos acumular.
A ‘nobreza’ de que fala Rob Riemen é de outro tipo; é a nobreza dos que procuram a Verdade, a Beleza e o Bem, para repetir a vetusta trilogia que os Gregos nos legaram. É a busca desse ‘ideal de vida esquecido’ que moveu pensadores tão distintos como Espinosa, Thomas Mann e Leone Ginzburg, morto pelos nazis na Itália ocupada.

EDUCAÇÃO LIBERAL
Mas como se adquire essa ‘nobreza de espírito’? Se a pergunta fosse formulada a Aristóteles, a resposta do mestre seria: pelo hábito. Não apenas pela necessidade de cultivar as virtudes que consideramos necessárias para o florescimento humano – a coragem, a moderação, a sabedoria, a justiça – mas pelo contacto permanente com os grandes nomes da cultura. Só pela ‘educação liberal’ é possível elevar a nossa básica humanidade.
É esse convívio com os fantasmas de uma civilização que nos permite cultivar a liberdade interior, sem a qual não existe verdadeira liberdade em sentido político. Só como homens livres podemos habitar uma Cidade livre.
Trata-se de um exercício difícil, solitário, por vezes exasperante. Mas é um exercício necessário para não sucumbir às modas do momento. Quando não acreditamos em nada, advertia Chesterton, estamos maduros para acreditar em qualquer coisa. E muitos dos melhores intelectos do séc. XX, lembrados por Riemen, sucumbiram a essa armadilha intelectual; sucumbiram, no fundo, a essas "religiões seculares", como lhes chamava Raymond Aron, que mais não eram do que versões bastardas da fé tradicional em declínio.
"Não basta interpretar o mundo, é necessário transformá-lo", afirmava Karl Marx. Rob Riemen revisita o mandamento e, com a sua ‘Nobreza de Espírito’, reformula-o: "Não basta interpretar o mundo, nem sequer transformá-lo; antes de começarmos pelo mundo, devemos começar por nós".
RESUMO
Ensaio do filósofo Rob Rimen sobre o ideal da "nobreza de espírito"
Título original: ‘Adel van de Geest’
Autor: Rob Riemen
Editora: Bizâncio
Tradução: António Carvalho

(in Correio da Manhã)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Dorothy Dix


«Confession is always weakness. The grave soul keeps its own secrets, and takes its own punishment in silence.»

Dorothy Dix, pseudónimo de Elizabeth Meriwether Gilmer, jornalista americana, nascida em 1861.

terça-feira, 31 de maio de 2011

31

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Vale o que vale...

... Mas não deixa de ter graça.
Assim se vê como o Zé e o Pedro são iguais.

Mr. Fonseca and Don Luigi

«Representamos o homem como um ângulo aberto. O dinamismo do homem tende sempre a ir mais além, e sempre a satisfazer-se mais e a cumprir cada vez mais os desejos que tem dentro de si.»
(Giussani, Luigi, É possivel viver assim?, vol.I, Tenacitas, Coimbra, 2007, pág.71)
«We wanted so much more, we headed right into the sun
We chase the dragon right to his door, now look how fast did we burn
We ran wild through the haze in such a fast and different pace
We held those glasses high for so long, now look how tired and sad we've become

And then you're gone, I'm moving on, But those little things they can find me
The curtain falls and there's no applause and those little things follow behind me»
David Fonseca, Little Things II

«How many times you heard "it's over"
And then you go and fnd another
Another who pleads, another who gives, until it drives you out of your mind
You're tired to be the one that breaks, the one that hurts, that different kind»
David Fonseca, Morning Tide (Just Can't Remember)

«Baby you know that we can do it from the start
Baby, Yeah I can heal and mend your broken heart
Baby, there's a war outside these windows, now where are you heading to?
Baby, all I ever wanted girl was you»
David Fonseca, (Baby) All I Ever Wanted

terça-feira, 24 de maio de 2011

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Cinismos

Ela era tão cínica, que o convidara na esperança de que ele não fosse!

domingo, 22 de maio de 2011

Modern Times

Já ninguém lê. Mas os Clássicos adaptam-se aos tempos.



Para quem gosta de T-Shirts.

sábado, 21 de maio de 2011

sexta-feira, 20 de maio de 2011

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Uma Mulher à moda antiga!


Leio as notícias invasivas, invasoras. São fofoca, capricho, cusquice.
Mas ela ergue a cabeça. Sai à rua. Olha o mundo de frente. Diz, «Estamos calmamente à espera da sua conclusão, que não deve demorar muito. Pela minha parte, este encontro de uma noite está ultrapassado. Virámos a página. Posso acrescentar que nos amamos agora tanto como quando nos conhecemos»; ou «Não acredito por um segundo nas acusações feitas contra o meu marido. Não tenho dúvidas que a sua inocência será provada». Vê a sua vida devastada, arrasada. Duas vezes. Mas permanece.
Uma mulher à moda antiga.
Uma mulher que é Mulher.

Hoje há Bola!

E eu, como sempre, torço pelo único Sporting em campo...
(E que, curiosamente, parece ter o mesmo treinador...)

terça-feira, 17 de maio de 2011

Tormentos

Há dias assim. Em que o mundo parece que nos sovou, ou que tirou o dia para nos sovar.
Apetecia-me, num gesto de gulosa vingança, pegar na guitarra e tocá-la estridentemente, furiosamente, como uma espada que fere os teus ouvidos, e gritar-te bem alto, There's nothing Wrong With me!. Mas eu não sou o David Fonseca. E finda a raiva dormente, alucinante, ilusionista, nebulosa, retorno à realidade.
E descendo, voltando novamente à terra, desinfectando as feridas e tratando as mazelas, renovo a minha fé, e lembro-me que no fim da vida não presto contas na terra, mas no céu. E por isso ergo a cabeça. Tento ter os olhos posto no céu, no cimo, no topo, lá no alto. E sigo, cantando, assobiando, o meu caminho. Com uma certeza que é sustentáculo no caminho da vida. Porque o que nos foi dado para fazer não foi perdoar, mas amar. Todo o resto, são coisas do Altíssimo.
E quem me dera não fosse no meu tempo. E quem me dera que fosse de outra forma. Mas quem não souber ser feliz aqui e agora, nunca saberá sê-lo. Porque este foi o tempo que nos foi dado. Não outro.

sábado, 14 de maio de 2011

Antíteses do Amor

(...)
Porque quando te chamo "minha burra"
Estou a dizer-te "meu amor",
Ou quando digo que "não precisas de vir,"
Estou a implorar-te que venhas, por favor.
Quando te grito, não é ódio,
Mas preocupação;
Quando me calo não é indiferença,
Mas um pedido de atenção.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Um café e um bagaço


Porque assim se passam as tardes...

quarta-feira, 11 de maio de 2011

O que sobrou...

Ela gostava de bolachinhas.
Ele gostava dela.
O resultado foi: migalhas....

terça-feira, 10 de maio de 2011

O Ciúme II

«Eu sei que nenhum homem escapa ao ciúme. O ciúme é a artéria principal por onde corre o nosso afecto.»


[Pereira Coutinho, João, O Sorriso de Ben Affleck, in Vida Independente, 2003]

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O Ciúme


«Se o ciúme nasce do intenso amor, quem não sente ciúmes pela amada não é amante, ou ama de coração ligeiro, de modo que se sabe de amantes os quais, temendo que o seu amor se atenue, o alimentam procurando a todo o custo razões de ciúme.
Portanto o ciumento (que porém quer ou queria a amada casta e fiel) não quer nem pode pensá-la senão como digna de ciúme, e portanto culpada de traição, atiçando assim no sofrimento presente o prazer do amor ausente. Até porque pensar em nós que possuímos a amada longe - bem sabendo que não é verdade - não nos pode tornar tão vico o pensamento dela, do seu calor, dos seus rubores, do seu perfume, como o pensar que desses mesmos dons esteja afinal a gozar um Outro: enquanto da nossa ausência estamos seguros, da presença daquele inimigo estamos, se não certos, pelo menos não necessariamente inseguros.
O contacto amoroso, que o ciumento imagina, é o único modo em que pode representar-se com verosimilhança um conúbio de outrem que, se não indubitável, é pelo menos possível, enquanto o seu próprio é impossível.
Assim o ciumento não é capaz, nem tem vontade, de imaginar o oposto do que teme, aliás só pode obter o prazer ampliando a sua própria dor, e sofrer pelo ampliado prazer de que se sabe excluído. Os prazeres do amor são males que se fazem desejar, onde coincidem a doçura e o martírio, e o amor é involuntária insânia, paraíso infernal e inferno celeste - em resumo, concórdia de ambicionados contrários, riso doloroso e friável diamante.»

[Eco, Umberto, A Ilha do Dia Antes, Difel, 2005]

O V

No metro, encontro uma rapariga africana com pouco mais de 20 anos, adornada com um decote até ao umbigo. O decote, moderno, tinha a forma de um V mais que maiúsculo, e quem se desse ao trabalho de unir as extremidades, e se abstraísse das supinas e arredondadas montanhas, poderia ler a mensagem que sobre ele estava inscrito, mas que as margens separavam: "party girl".
Mas de que será feita essa party? Do decote ou do conteúdo? Só ela teria a resposta.
Eu não fui convidado. E, sinceramente, também não queria ser.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Uma questão de disposição

Ela fez o que ele não quis, e não lhe disse. E, como sempre que não se quer alguma coisa, ele soube.
«Tu fazes o que quiseres», disse ele. E ela respondeu-lhe que era rídiculo ele dizer isso.
Ele não percebeu.
Ela explicou:
- Se estou contigo, supostamente, decides comigo as coisas que eu posso ou não posso fazer, as coisas que eu devo ou não fazer.
Ele parou um pouco para pensar. A sala encheu-se de silêncio. Até que a olhou nos olhos e exclamou:
- Tens razão.
Ela riu seriamente, e olhou-o com superioridade. Mas ele continuou.
- Tens razão, sim. Decidimos juntos. Decidimos juntos quando cada um assim quiser, ou melhor, quando cada um deixar que assim seja.
Ela não percebeu. Contentava-se e contemplava-se com a sua superioridade. Com aquela superioridade que julgava ter. Julgava, sim, porque toda ela era hipotética como a textura fofa das nuvens. Porque ele não se rendera. Ele não se subjugara como aparentava. Procurava simplesmente fingir desinteresse, tentanto, pelo contrário, alertá-la, reforçando o que dizia: ela queria que ele participasse na sua vida, que tomasse posição sobre as suas atitudes; e ele, que a queria mais que tudo, procurava demonstrar-lhe como tudo isso só era possivel se ela deixasse. Se ela permitisse, se ela o quisesse autorizar a entrar na sua vida. No fundo, se ela estivesse disposta a isso. Porque quase tudo na vida se resume a uma disposição. Quase tudo, claro; tudo o que nos tenha por protagonistas.
Penso na cena. Imagino a cena. Vivo a cena. E constato que Oakeshott acertou. A disposição interessa. Só ouvimos o que queremos ouvir. E, por vezes, ouvimos coisas para as quais não damos ouvidos. Porque não estamos abertos - ou por outras palavras, não estamos dispostos - a ouvi-las. 

Caro leitor, o amor é um desejo belo; amar é muito bonito. Mas também é díficil e exigente. No entanto, deixar-se amar é-o ainda mais. Só ama quem quer; quem quiser verdadeiramente deixar o amado entrar e ocupar o seu lugar. O que é díficil, porque exige dar de si. Mas isso é apenas um passo, um pequeno passo a dar. Que se dá, se se estiver disposto a isso.
Ele só podia participar da vida dela, se ela estivesse disposta a isso, se lhe desse ouvidos. E ela só poderia ouvi-lo se lhe desse atenção, se se pudesesse diante dele, toda ela, e esperasse - o que é algo muito importante e nem todos sabem - pelo que ele tem a dizer. Se o ouvisse, se levasse a sério o que ele disse. Se parasse para pensar nisso, se considerasse - se tivesse alguma consideração. E quem diz ouvir, diz falar, fazer, planear, etc. Porque para que tudo isso, também é preciso falar - para se ver em conjunto, há primeiro que partilhar. E cada coisa que se esconde, é a confiança que se esvai, o que há em comum que se vai, a união se desfaz: porque houve um caminho comum se deixou de percorrer. Alguém que parou. Ou outro que em de andar, começou a correr.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

The Grass


Olho a relva ainda verde. Um dia, como eu, estará esfarrapada, amarelada, queimada pelo sol e pelo tempo. Um dia estará pisada pelos pés dos outros; curvada, arrasada pelo pêso dos outros.
No entanto, aqui, agora, está verde, e contém em si toda a esperança do mundo. E eu repouso sobre ela.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Nobreza de Espírito

«Aqui, uma vez mais, podemos testemunhar o nascimento da nobilitas literaria: a verdadeira nobreza de espírito. As artes, as humanidades, a filosofia e a teologia, a beleza - cada uma delas existe para enobrecer o espírito, para permitir à humanidade descobrir e reivindicar a posse da sua forma mais elevada de dignidade. É a herança cultural, as importantes obras de poetas e pensadores, artistas e profetas, que uma pessoa tem de usar para a cultura animi (a expressão de Cícero), o cultivo da alma e do espírito humanos - para que a pessoa possa ser mais do que aquilo que também é: um animal.»
Rob Riemen

[Riemen, Rob, A Cultura enquanto convite - Ensaio introdutório da Obra de Steiner, George, A Ideia de Europa, pág.15, Gradiva, 2007]

segunda-feira, 2 de maio de 2011

W. Somerset Maugham


«It was a misfortune for English literature that Keats died too soon and Wordsworth too late»

[Somerset Maugham, The Novels and Their Authors, William Heinemann Ltd, 1954, pág148]

domingo, 1 de maio de 2011

João Paulo II


Um milhão de pessoas deslocaram-se a Roma para assistir à Beatificação do Papa João Paulo II. Uma amiga minha perguntava com mordaz ironia, porque não fui a Roma. Segundo ela, toda a gente foi para Roma, "essa cambada de beatos!".

Riu-me. Levo a provocação com a indiferença de um árbitro insultado num estádio de futebol. E questiono-me sobre a veracidade das acusações. Será uma beatice seguir João Paulo II? Sair de casa para ir ao encontro de um velho, em estado cadavérico, fechado numa caixa de madeira?
Riu-me novamente. Entendo a crítica, que se justifica apenas quando vinda de quem não consegue ver mais além do que é aparente, do que está diante dos olhos. É um problema de vista.

Há muito que lido com a diferença: como católico, sou olhado como um tipo esquisito, como uma raça à parte da humanidade. É um preconceito habitual. Mas o capricho não se ficam por aqui. Os autores desta magnífica teoria, também estratificam a categoria: há tipos normais (dentro do possível), e há beatos. Enfim, perdem-se na teoria, esquecem o essencial: somos todos homens, todos iguais, feitos da mesma matéria: somos todos pecadores defeituosos. E quem acusa parece por vezes esquecer isso. Porque fazendo do católico o membro de uma seita mafiosa ou de opiáceos, ignora a maior evidencia: é que o beato padece dos vícios dos homens, e que por isso também é preguiçoso.
O que ninguém vê, o que era bom que vissem, o que está diante dos olhos, é que milhões de pessoas saíram de casa, passaram a noite em claro, sob a ameaça de chuva, ajoelhadas a rezar. Foi Noite Branca em Roma.

Porque o fazem? Cada um terá sido tocado à sua maneira, de forma a sentirem o impulso de sair de casa para testemunharem aquilo que viram. Porque o que viram não foi ilusão, antes lhes falou directamente ao coração, porque era algo demasiado humano e razoável para não ser verdadeiro: o testemunho de João Paulo II.

Hoje, uma jornalista perguntava como era possível tanta simpatia por um Papa que ela achava ter tido tantas atitudes contraditórias (segundo ela, isto devia-se ao facto de ele ser conservador e popular). Lembrei-me das palavras de Giussani, quando o questionavam sobre o porquê de tantas pessoas se reunirem para o ouvir. Giussani respondeu de imediato: "porque acredito naquilo de digo". O jornalista ficou atónito a olhar para ele. E ele encolheu os ombros ironicamente. O Jornalista ainda perguntou se isso bastava. Giussani disse que sim, e riu.
João Paulo II possuía a mesma força, a mesma coragem, a mesma fidelidade aquilo que viu e acreditou, e que viveu para anunciar. E o Papa Bento XVI sublinhava-o hoje na homilia:

«E qual é esta causa? É a mesma que João Paulo II enunciou na sua primeira Missa solene, na Praça de São Pedro, com estas palavras memoráveis: «Não tenhais medo! Abri, melhor, escancarai as portas a Cristo!». Aquilo que o Papa recém-eleito pedia a todos, começou, ele mesmo, a fazê-lo: abriu a Cristo a sociedade, a cultura, os sistemas políticos e económicos, invertendo, com a força de um gigante – força que lhe vinha de Deus –, uma tendência que parecia irreversível. Com o seu testemunho de fé, de amor e de coragem apostólica, acompanhado por uma grande sensibilidade humana, este filho exemplar da Nação Polaca ajudou os cristãos de todo o mundo a não ter medo de se dizerem cristãos, de pertencerem à Igreja, de falarem do Evangelho».

Amar João Paulo II não é uma formalidade, uma simpatia, um acto de beatice, mas um reconhecer de uma presença que se impôs, que ainda hoje se impõe, que falou ao mundo, e lhe mostrou um caminho que muitos ignoravam porque lhes abriu os horizontes, arrastando consigo multidões. Ainda hoje arrasta. Multidões que se movem pela força daquilo que encontraram, pela atractividade e comoção que aquela força de gigante lhes causou. E este é o testemunho de quem foi João Paulo II, da importância que teve para cada um de nós. Como Dostoyevski escrevia: «eu vi a verdade, não a inventei eu, e a sua imagem viva encheu a minha alma para sempre». Curiosamente, dois mil anos depois, este continua a ser o método da Igreja: um método que não viola a natureza das coisas, porque como ensina Wojtyla, «o homem é o caminho da Igreja, e Cristo é o caminho do homem».

Pensando em João Paulo II, lembro a crítica de João Pereira Coutinho sobre "O Discurso do Rei". Guardo na memória a sua última imagem, cansado, doente, na janela do hospital, abençoando o povo quando as forças físicas definhavam, e constato para mim que a vida de João Paulo II é um testemunho «sobre a mais rara das virtudes: a virtude da resiliência. Esse sentimento moral profundo de que existem deveres que não apenas são superiores a nós como exigem o melhor de nós». Esse seu sentimento nasceu de um encontro; o encontro com Cristo. Cristo vivo. Presente. Aqui e agora. Um encontro tão grande, que lhe encheu a alma, e o levou a anunciá-lo por todo o mundo.

Quem não vê isto não vê para além do que está diante dos olhos, ou seja, passados dois mil anos, a doutrina de Tomé continua a vencer, apesar da derrota que Jesus lhe infligiu. Mas, como está escrito, são «Felizes os que acreditam sem terem visto» (Jo 20, 29).

Obrigado Beato João Paulo II.

sábado, 30 de abril de 2011

Joseph Conrad


«- Sim. Porque não?
Estas palavras, proferidas com ligeira petulância, deixavam entrever o desejo caprichoso de uma mulher amada, caprichoso apenas porque se toma por lei, ocasionalmente constrangedor e sempre dificíl de evitar.
- Porque não? - repetiu ele, com ligeira ironia, como se ela lhe tivesse pedido a Lua. Só que agora sentia-se um pouco irritado com ela, com a volubilidade feminina que tão facilmente se despe de uma emoção como de um elegante vestido de noite.»

[Conrad, Joseph, O Conto, 1902]

Um Silêncio a dois

Ela calou-se. Ele também.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Dúvida Metódica


Não sei o que é o amor.
Não sei o que é estar bem para a idade.
Não sei o que é estar careca de saber.
Não sei o que é ter cabelo aos 70.
Não sei quem és tu, o que foste,
De onde vieste, ou porque partiste.
Não sei se é para baixo ou para cima.
Não sei o caminho para casa dessa velha tia.
Podemos ir por cima.
Para ser diferente,
Para variar.
Mas o que são estas sete colinas?
E porque nunca as fui visitar?
Há tantas coisas por fazer nesta vida.
Porque nunca as pude experimentar?
Que esperança temos nós de conhecer o mundo?
Pessoas, livros, tudo.
Tudo é passageiro!
Tudo é efémero, mas verdadeiro.
E o que é a verdade?
Essa antiga e distante quimera da vaidade?
Eu sou melhor que tu. Porquê?
Porque sei mais;
Porque provei o sabor da Verdade ainda antes dos teus pais.
Porque eu vi o que não inventei,
Mas que sei e soube muito antes de ti.
Porque fui o primeiro e estou mais perto desse Jardineiro
Que plantou o Éden que abandonámos.
Enfim, cegamos por verdades, perdemo-nos nas eternidades,
Que não dizem nada do que sou ou poderei ser.
Inscrevem-me na carne a escravidão,
A uma perseguição de um sonho,
E, assim, privam-me da construção.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A Fundação

O relógio indicava 11:33.
- Acorda, pá! Faltam 10 minutos para a fundação de Portugal!

terça-feira, 26 de abril de 2011

O Silêncio


Estamos sozinhos neste quarto, eu e tu. Não há mais ninguém. E duvido mesmo que algum de nós esteja por nós acompanhado, tão distantes que estamos um do outro. Estamos sós, miseravelmente sós, solitária mente sós. Arrisco, porque na encruzilhada e na crise, alguém tem que ceder, alguém tem que começar por dar o braço a torcer. Arranco. Porque sem atacar, ninguém pode vencer. E assim faço.
Digo-te que te amo. Peço-te perdão. E apresento os meu serviços e toda a minha prontidão para te servir, para me sujeitar aos teus desejos e caprichos, à dor que tu, por força dessa amargura venenosa que alimenta a vingança, teimas em infligir-me. "Amo-te", repito, mas tu nada dizes. E eu explico-te, com a paciência do condenado arrependido que deseja perdão, "se soubesses como , por vezes, o silêncio fere mais que algumas palavras afiadas, e pronunciadas para matar - o teu silêncio é, verdadeiramente, um silêncio de morte".

(Imagem afanada aqui)

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Cravos Murchos


Passados 37 anos, os senhores constataram que os cravos murcharam.
E porque não há dinheiro para a festividade, e para acabar com a precariedade, podiam dedicar-se à jardinagem...

domingo, 24 de abril de 2011

Natureza Humana

Pela boca morre o peixe,
Dizia ela, com razão.
Mas que choque causa tudo isso?
E porquê tanto escândalo e confusão?
A identidade é o equivoco, a contradição.
Nada há de mais mais irreal e provocador de desilusão,
Que desconhecer que a coerência não passa de uma mentira
Para camuflar o coração.

E foi por conhecer a nossa errância,
Para que ela não ditasse como palavra final,
Que há 2000 anos atrás,
Um Homem chamado Jesus,
Não negando o que vivia para afirmar,
Morreu subindo à cruz
Para nos salvar.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Ecce Homo

quinta-feira, 21 de abril de 2011

A Máquina de Escrever


Eis a máquina de escrever. A minha máquina de escrever. A máquina de escrever dela, porque é nela que escrevo para ela.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Funeral


Na sala lânguida, lúgubre e muito britânica, o sujeito de bigode branco e fraque, perguntou ao pequeno jovem bem parecido que acabara de entrar:
- Então, como foi o funeral?
- Normal - disse com displicência - Abriu-se um buraco no chão, e enterrou-se o corpo.
E mordera raivosamente um éclair que retirara de um tabuleiro de um empregado que passava.
A banalidade com que tratava a morte era tal que falava dela como quem bebia uma imperial. Causava choque, horror, alguns arrepios, mas fazia parte do seu modo de estar, do seu género, da sua rudeza.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Ver o Mar


Desço a rua solitário, como sempre. Lá em baixo, sob as casas que se sobrepõem em socalcos, vejo o mar.
Assim é Lisboa. Por entre ruas e ruelas que se estendem pelas sete colinas e se precipitam sobre o Tejo, vamos deambulando, como quem busca encontrar-se, e, perdido em pensamentos efémeros sobre o sentido da vida, encontro-te, Esperança, nesse manto da cor de certos limos do mar, onde descansam muitos dos que perderam a vida para que se ganhasse Portugal, como se tu contivesses a salvação do mundo, da humanidade, enfim, do meu tormento.
Não sou marinheiro. Nunca naveguei. Talvez por isso acredite tanto em ti. Porque só colocamos tanta esperança no que não conhecemos, porque desconhecemos as limitações de que padece.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Amor em Abstracto

Ela diza-me que nunca na vida sentira isto, que nunca gostara assim de ninguém.

domingo, 17 de abril de 2011

Drummond de Andrade


«Ás 9 da manhã, pelo telefone, comuniquei-me com a secretaria da Faculdade de Medicina. Expus o objecto da consulta, de maneira a não deixar dúvida: procurava o endereço da senhorita Andréia de Poggia (era o nome da carteira) para restituir-lhe uma bôlsa, NÃO PARA ISSO ASSIM ASSIM.»

          [in Carlos Drummond de Andrade, A Bôlsa & a Vida, Editôra do Autor, Rio de Janeiro 1963, pág.12]

Resultado Final

Dizia ele:
- Não executo vinganças. Só faço justiça.
- Sim - respondi-lhe - mas eu creio que a justiça é a melhor das vinganças...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Simplício Costa


«Ela até fala português, que é uma coisa que poucos portugueses falam.»

[in Athur Duarte, O Costa do Castelo, 1943]

Promotion!

Um homem subiu na vida quando deixou de fazer propostas e passou a fazer afirmações.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Como será com o FMI?

Revisitando cardernos e notas de outros tempos, reencontro-me com uma breve glosa a uma notícia publicada no Público de 11/06/2010, na página 13, onde havia um pequeno balanço sobre os 25 anos de adesão à CEE. A jornalista, Teresa de Sousa, escrevia "hoje, continuam a ser raras as vozes que se atrevam a dar nota negativa à integração europeia."
E qual era a opinião que servia de sustento a a esta afirmação? As declarações de Miguel Relvas, Paulo Rangel e António Vitorino.
Cá para mim, isto é ilustrativo dos dois mundos distintos e coexistentes em que vive o poder político e o povo. Porque certamente se a recolha de opiniões fosse, a título de exemplo, feita no Metro de Lisboa, a resposta deveria divergir.
Mas isto, é só um "suponhamos"...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Cornologia

Cornélio é nome de corno. E apesar do seu nome de baptismo ser Albano, todos o tratavam por Cornélio. Isto, claro está, por sua mulher padecer dos mesmos vícios que a sua mãe. Porque parecenças com o seu suposto progenitor, mais que essa, não tinha.


Forza Silvio

Inicia-se o julgamento. Vejo o telejornal, e atento a uma mulher que se insurge perante uma manifestação de apoio a Berlusconi. Ocorre-me subitamente o pensamento: «certamente esta não deve ter dormido com ele...»

domingo, 10 de abril de 2011

Caramba!

Desta nem se lembrava o Professor Karamba!

sábado, 9 de abril de 2011

Classic Mood

Os Clássicos sê-lo-ão eternamente? Não sei. Mas Puccini, para mim, será eterno. Não sei que alma têm os grandes génios da humanidade. Sempre os pensei infelizes, como aqueles homem a quem meio mundo deve e ninguém lhe paga. A diferença é que no caso dos Clássicos não é só meio mundo que está devedor. É a humanidade inteira. E eu sou parte dela.
Que bom este mundo, onde se provam prazeres impagáveis sem ter que pagar por eles.
Adoro Puccini, e a sua música que nos põe a alma a dançar. Porque ninguém lhe fica indiferente. Porque é impossível ficá-lo. Porque quando Lauretta, com a sua célebre ária O mio babbino caro consegue amolecer o coração do pai, o condenado por Dante, Gianni Schicchi (lê-se Sequiqui), Puccini consegue amolecer o coraçao de qualquer pessoa.
Estranha esta universalidade, universalidade que define os Clássicos, esses homens que inscreveram o seu nome num território que todos partilhamos, indo ao encontro do que de comum há em nós - eles, mais que ninguém, sabem o que somos e do que somos feitos.

Scarlett O'Hara


"I'd dance with Abe Lincoln himself tonight!"

[in Victor Fleming, Gone with the Wind, 1939]

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Chegou a Febre da Praia

O Sol abunda. E ela queimou a bunda!

Mulheres

Periferia era uma mulher que preferia a prefeitura à perfeição.

Num autocarro

- Tou. TOU! QUEM FALA? QUEM? PAULINHA? OLÁ PAULINHA, É O AVÔ. QUERES FALAR COM A AVÓ? ESTÁ BEM. JÁ TE PASSO.
-Querida, olá, vamos para Fanhões.
Momento de Silêncio.
- Quê? Também querias vir? Olha agora, atão? ATÃO? Ontem liguei-te, mas tu não RESPUNDESTES!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Mulheres

Nenhuma mulher gosta do homem perfeito. Só gostam do Prefeito.

So when the fight is over, And the storm is through

Ele pensava na sua inocência: "nunca haveremos de discutir. Nada há que nos torne belingerantes". Mas enganava-se. Como se engava quase sempre quando pretendia fazer planos sobre o decurso da vida. Ignorava, no entanto, que o problema não são as discuções. O problema é desistirmos por causa delas; é deixarmos que elas se superiorizem e apaguem tudo o resto.


quarta-feira, 6 de abril de 2011

Bacantes Paradoxais

Eu gosto muito de beber, mas já não vivo sem a Lei Seca.

Mulheres

Quando uma mulher te chamar perfeito, assusta-te: certamente te irá deixar.
Nenhuma mulher gosta de um bom homem. Ainda para mais se for perfeito...

quinta-feira, 31 de março de 2011

Casamento

O casamento foi a forma que as pessoas arranjaram para que as más decisões de um estraguem só uma casa.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Reactivemos a casa.


Como homens que somos temos necessidades e hábitos. Ou a falta deles. Escrever exige a frequência e atenção que nem sempre temos. Porque não estamos sempre disponiveis. Que o digam os nossos amigos... Já a leitura é mais frequente, passional, namoradeira. Há sempre tempo. Há sempre disponibilidade. No fundo, há sempre uma leitura atenta ou automatizada. Como em tudo na vida.
Os livros chegam por fim à estante, para o seu eterno descanso. Antes viram as suas folhas serem violadas, vergastadas, perfuradas pelo meu olhar. Sou sincero: sou escrupuloso. Tenho curiosidade de porteira. E analiso-as com a atenção e o perfeccionismo de um avaliador fiscal fazedor de cobranças. Mas por vezes tratei algumas delas com a frieza e indiferença que se dá aos desgraçados deste mundo, sem sorte nesta vida. Envergonho-me por isso.
Quando me contrair, certamente correrei para elas pedindo-lhes perdão. E dando-lhes a atenção necessária. Porque o bom da morte, é que uma pessoa fica sempre fácil de encontrar, porque está no seu lugar; e, além disso, é o único estado conhecido, do qual só é possivel evoluir para a vida.
Reactivemos, pois, a casa.
E quem sabe, mudemos-lhe o visual.
Ou não fosse a vida, aqui, sempre um tempo de recomeço.