Acho que a morte do Michael Jackson merece um palavra de atenção. É que ela é, como tudo, um retrato claro dos tempos modernos.
«Mas aposto que a origem dela [a morte] está num homem que, para usar as palavras de um francês célebre, alimentou uma "náusea-de-si-próprio" ao longo da vida: uma náusea da sua própria negritude e, talvez mais importante, uma náusea da sua própria humanidade, por definição mutável e perecível. Não admira que, ano após ano, ele tenha tentado golpear essa humanidade, perseguindo um ideal estético que era, aos olhos do mundo, caricatural e infantil. E, aos olhos dele, eterno e pós-humano.»
João Pereira Coutinho
«Pessoalmente, reparo apenas queo mundo dedica a estas figuras pop o mesmo tipo de veneração que os nossos antepassados reservavam a santos mais canónicos.
Nem sequer faltam as velas e as romarias. Faz sentido: com o declínio da religião, o vazio espiritual do tempo foi preenchido por figuras de plástico que passaram a ocupar os altares vazios. Ontem, a Princesa Diana. Hoje, Michael Jackson. Amanhã, quem sabe, a sra.Paris Hilton, velada em choro pelo nosso Santo Ronaldo.»
João Pereira Coutinho
Resta-nos a dança!
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