A Lenda do Santo Bebedor, Joseph Roth, Lisboa, Assírio e Alvim, 1997
Joseph Roth é humano. E sabe bem o quanto custa a vida. O livro é pequeno, mas recheado de humanidade. A um bebado sem abrigo acontece um milagre: encontra um homem supreendente, disposto a ajudá-lo, pedindo apenas em troca que devolva o dinheiro que lhe emprestou a Santa Teresinha do Menino Jesus. O pedinte aceita. E o resto da história é a vida de um homem comum, que procurando ser fiel aos seus deveres, se vê constantemente perdido e ameaçado pelas escolhas que faz. Tudo não passa das mais simples tentações a que teria de dizer não. Tentanções que podiam ser as nossas. E com as quais nos vemos confrotados, na ânsia de alcançara felicidade. Para um católico poderiamos por a questão de forma simples: o amor a Deus é um acto de vontade, que implica uma renúncia a algo, um custo de oportunidade, que nunca é uma perda, mas um ganho.
O tormento do protagonista é esse: a simples incapacidade de corresponder ao que lhe é pedido.
Por outro lado, faz-nos notar o autor, na riqueza do dia-a-dia de Andreas, o nosso herói: a vida é feita de encontros, que nada mais são que pequenos milagres. É a esses que temos que corresponder. Por duas vezes encontra um senhor anónimo que lhe dá dinheiro, um senhor que lhe dá trabalho, um amigo da escola que lhe paga o hotel, um polícia que corre para lhe dar uma carteira que julga ser sua, mas não é. Constantemete vê a solução para o seu problema, o dinheiro para pagar a sua divida surgir-lhe caído nas mãos, mas constantemente lhe dá um uso individo.
Por isso nos dirá sábiamente o autor, que a vida tem que ser um desafio, porque se o não fosse, se tudo nos fosse dado de bandeja, facilmente nos perderiamos.
«Não há nada a que nos possamos habituar tão facilmente como aos milagres, quando estes acontecem duma forma sucessiva. Sim! A natureza do homem é tal, que este se chega a tornar mau, quando não lhe é concedido ininterruptamente tudo aquilo que um destino casual e temporário lhe pareceu prometer. São assim os Homens»Pág. 46
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