Temos pena que a chuva não nos lave a alma, não nos limpe, como faz às ruas da cidade, onde a sua passagem vai arrastando o lixo que se encontra a cada recanto de cada rua.
Porque não me lavas a alma? Porque me ficam estas manchas, estas dores?
Escrevo ao ritmo de Philip Glass, ao som de Mad Rush. A vida prossegue sucessivamente como as notas e as teclas que o pianista electricamente, freneticamente, toca. Vem-me à memória Thomas Mann. E no meio da loucura insana, da velocidade estonteante do dia-a-dia, de vez em quando, caímos: é a realidade que pára para nós. Não é o tempo, não. É a vida. Porque o tempo continua, quando eu estou aqui sentado. São as páginas dos livros que não se viram. São as folhas que não caiem das árvores. Só as rugas aumentam na vida estagnada. Amo-te, amo-te, amo-te. E, sem ti, a minha vida pára. Sem ti, as rugas aparecerão, as folhas cairão, o tempo passará, a morte chegará. Mas as páginas, as minhas páginas, as páginas do meu livro continuarão em branco. Sim, o tempo arrasta-se, mas o meu papel, o papel que sou eu, permanece em branco. E que pode justificar a existência nessas circunstâncias?
Não, não terei vivido bem. Tirei os olhos da razão. Embrenhei-me no supérfluo. Esqueci-me da confissão. Cai na depressão. E, claramente, - claramente, - tenho que arranjar qualquer coisa para fazer.
Sim, tenho. Sim, vou! Eu ainda aqui estou!
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