Talvez este seja o único ano em que o 25 de Abril seja digno, não de festa, mas de mínima reflexão. E tudo se deve ao problema Africano. Senão vejamos: oito dias antes da celebração da data, assistimos às feéricas declarações do Pai da Democracia, Mário Soares. «Eu sempre achei que Cabo Verde não deveria ter sido independente» disse o memorável "Presidente Fixe", e não se ficando por aqui acrescenta, «Eu pensava que Cabo Verde não é propriamente África porque Cabo Verde é um arquipélago do norte do Atlântico e que há uma relação que deveria ter sido mais explorada entre os três arquipélagos existentes que são Europa, ou seja, Açores, Madeira, depois Canárias e podia ser Cabo Verde» .
Mas a festa não se ficou por aqui. Seguiu-se o mítico General Eanes que só agora descobriu que a descolonização, afinal, «não foi a melhor, muito longe disso».
Por entre os apupos e opiniões costumeiras, do achista ao comentador, as declarações foram maioritariamente consideradas polémicas. Mas arrepia-me pensar dessa forma. Hoje custa-me acreditar que algo que não seja futebol ou Cristiano Ronaldo cause polémica neste país onde a palavra indignação deixou de existir. Por entre todos os defeitos que se lhes possam apontar, e da contradição que representam perante as ideias que sempre propagaram, estas declarações têm o mérito de ser realistas, e pode ser que ajudem a julgar a história de Portugal, especialmente o período do 25 de Abril.
Mas a festa não se ficou por aqui. Seguiu-se o mítico General Eanes que só agora descobriu que a descolonização, afinal, «não foi a melhor, muito longe disso».
Por entre os apupos e opiniões costumeiras, do achista ao comentador, as declarações foram maioritariamente consideradas polémicas. Mas arrepia-me pensar dessa forma. Hoje custa-me acreditar que algo que não seja futebol ou Cristiano Ronaldo cause polémica neste país onde a palavra indignação deixou de existir. Por entre todos os defeitos que se lhes possam apontar, e da contradição que representam perante as ideias que sempre propagaram, estas declarações têm o mérito de ser realistas, e pode ser que ajudem a julgar a história de Portugal, especialmente o período do 25 de Abril.
Porque o 25 de Abril não foi o que se diz; muito pelo contrário, foi o que foi: foi a Revolução que enviou Marcello Caetano para o Brasil, levou ao PREC, e deu lugar ao 25 de Novembro, etc. Não foi a revolução que ficou por cumprir: foi a que se fez, com todos os seus defeitos e pecados.
E é tempo, para bem do país, de a olharmos com o olhar recto da justiça, sem paixões, nem partidos. É tempo de por fim aos juízos morais que ditam a história recente de Portugal. É tempo de parar de julgar a revolução pelos ideais que pretendia alcançar. É tempo de olhá-la como foi; de olhar a realidade.
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