quinta-feira, 18 de março de 2010

É caso para perguntar: não votaram?


O PSD fez um congresso para se unir, mas acabou por sair dele ainda mais partido. Desta feita, o problema é a "lei da rolha". E Santana Lopes até prova ter razão quando diz que a norma é necessária. Basta ver que por causa da própria regra estatutária o partido já está todo dividido. Mas não era preciso pensar na discussão da regra. A história recente do PSD é o melhor exemplo de como repartir um bolo pelas crianças de forma equitativa aos seus desejos.

Três dias depois da votação, o PSD já só pensa em revogar uma norma que prometia ser a solução para o problema da divisibilidade. Espera-se maior firmeza nas propostas para o país que o PSD pode vir a apresentar enquanto oposição. Isto se quer de facto ser, como todos os candidatos desejam e prometem, uma verdadeira oposição. Ou melhor: uma verdadeira solução; uma verdadeira opção.

O pior é que o debate até já excedeu as paredes da São Caetano. E os vizinhos, principalmente os do Rato, aproveitaram logo para apontar os vícios anti-democráticos dos seus concorrentes, e lançaram-se logo numa cruzada pela democracia, com debates parlamentares e ameaças de Tribunal Constitucional.

A minha opinião pessoal não muda ventos nem marés. E por muitas suspeitas que me levante o artigo estatutário, não me debruçarei sobre o tema porque tenho mais que fazer. Mas, e chamem-me persecutório, tendo sempre a desconfiar dos concelhos do adversário. E acho que o PSD deveria fazer o mesmo. Ou esperam verdadeiramente que o Partido Socialista cuide dos problemas dos Sociais-Democratas, e defenda os seus interesses?

Mas eu também entendo Santana, e estou solidário com ele. Estou-o duplamente: primeiro porque o partido teve tempo para pensar e discutir a proposta. E mais democrático que os limites constitucionais da norma, é o respeito pela autodeterminção do partido. E aí estamos obviamente perante uma deslealdade para com os militantes que votaram favoravelmente. No entanto, e observando o tratamento dado à democracia nacional, compreendo que estranho será que alguém se preocupasse com a democracia interna dos partidos.
Em segundo lugar, porque como Santana Lopes referia amargurado, eu também acho que há todo um problema de distracção no PSD. A começar pelos actuais candidatos à presidência, que agora se procuram elevar como arautos mais democráticos que a democracia, ignorando por completo o valor das decisões internas globais.
É caso para perguntar: não votaram?
No fundo, há duas consequências claras: o partido parece estar apto a utilizar o regime referedário tal como o usa o sistema político português, (ou seja, votar e repetir a votação até se obter o resultado pretendido;) e mostra bem como todos os líderes têm a mesma pretensão: sendo líderes, fazer tão só e apenas o que lhes apetece. O que remete o problema para a questão histórica do PSD: a sua eterna dependência dos seus próprios secretários-gerais.
Oxalá a sua queda não comece aí; e não acabe, quem quer que chegue a líder, por ser vitima do seu próprio veneno.

Um partido que lava a sua roupa na praça pública, e deixa que os seus opositores debitem sobre os seus assuntos internos, não pode esperar ter o respeito dos eleitores. E o PS só está a fazer o que se esperava: cravar mais uma estaca no lombo já torturado dos sociais-democratas.
O problema é que o PSD pretendia renascer (ou recrescer) e arrumar a casa no congresso. Mas em vez de começar por aplicar as trancas na janela que o defendesse das investidas inimigas, pondo fim a um longo martírio, o PSD preferiu abrir novamente as janelas da sua casa sob o lema da renovação, talvez para afastar o cheiro a mofo, e através disso, abriu mais uma vez o flanco para a ofensiva socialista.

No meio disto tudo começo a pensar na verdadeira preocupação do Partido Socialista. De facto é melhor não deixar que o PSD se una, ou então lá se vai a estabilidade governativa que perdura, primeiramente, porque ainda têm um projecto que se conhece, independentemente de ser bom ou mau. Mas o pior não é isso: é que se o PSD marchar todo à mesma velocidade e à voz do mesmo timoneiro, lá irão por água abaixo todos os votos que os membros do PSD (e, principalmente, a sua influência) deram aos rosas descarada e discriminadamente por pretensa oposição e divergência para com a liderança.

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