terça-feira, 23 de junho de 2009

A Cruz e a Espada, por Couto Viana

(Ao Nonas)



— Repara, Beatriz: os Castelhanos avançam! E o nosso Condestável ali posto a rezar!
— Assim faz sempre antes das batalhas. Roga ao Céu que lhe dê a vitória. E Deus tem-no escutado.
— Já por três vezes o seu pajem veio chamá-lo. Se não o atende, estamos perdidos! Ouvem-se, cada vez mais perto, as trombetas inimigas, o tropear dos cavalos, o alarido da soldadesca...
— Não, Pedro: D. Nuno Álvares Pereira não nos abandonará. Graças a ele, temos um rei nosso e é nossa a terra que pisamos.
— É um herói!
— E um santo!


D. Fernando deixou, como herdeira da coroa portuguesa, sua filha D. Beatriz, casada com D. João II de Castela.
Iríamos, pois, ter um rei estrangeiro se D. João, Mestre de Avis e filho bastardo do rei D. Pedro, não se proclamasse, apoiado pelo povo lisboeta, Defensor do Reino.
E bem o defende, já como rei (o doutor João das Regras provou que era ele o nosso legítimo soberano), e com o auxílio heróico do Condestável D. Nuno Álvares Pereira, derrotando os castelhanos invasores em várias batalhas, sendo a mais importante a de Aljubarrota, travada no dia 14 de Agosto de 1385.
D. Nuno é das maiores figuras da nossa História: além de guerreiro invencível, a sua profunda fé católica fez dele um santo que a Igreja beatifi-cou. O seu rei e amigo cumulou-o de honrarias, mas ele a tudo renunciou, recolhendo-se ao Convento do Carmo, que mandara construir, e onde morreu humildemente.
D. João l casa com a princesa inglesa D. Filipa de Lencastre, e quatro dos seus filhos distinguem-se pela inteligência e nobreza de carácter: D. Duarte, que sucedeu ao pai e foi escritor e filósofo; D. Pedro, sábio e grande viajante; D. Henrique, iniciador das descobertas marítimas, e D. Fernando, o Infante Santo, sacrificado em África para que Portugal ali se mantivesse.

António Manuel Couto Viana, A minha primeira História de Portugal, Verbo, 1984, Págs. 12 e 13
Ilustração de Fernando Bento

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