sábado, 22 de agosto de 2009
Os Heróis
Para uma personagem como aquela que eu sou, os heróis existem. E são de facto personagens românticas, com as quais sonhamos e tentamos imitar, na ânsia da perfeição que tarda em chegar. O herói não é um vencedor. Se o fosse, à partida, eu próprio estava desde logo perdido. Mas o herói - o meu Herói - é portador dum sentido de serviço, sacrifício e justiça. Não se bate por qualquer causa. Bate-se pela causa justa, pela que vale a pena, pela que se justifica. É um exemplo de humanidade, e essa é a sua virtude. Por ela alcançamos o seu lado místico. Cede quando tem que ceder; é implacável com quem tem que o ser; ama quem deve amar, mas sempre com racionalidade. Não tem moralismo, mas é um exemplo de moralidade. Segue e procura sempre a verdade.
Era esse o Herói que via no quadro de Friedrich, o viajante sobre o mar de nuvens, para mim a grande representação do herói romântico.
O herói desconhecido, que se apresenta de costas, sem sede de protagonismo apesar de ser a personagem principal, e que no meio dos rochedos, pensa a sua guerra, mais interessado em saber se a deve combater do que no seu resultado. É um homem como todos os outros, com paixões, sacrifícios, que na tela tão bem se podem imaginar. O homem que sobe à montanha na busca de isolamento, onde possa pensar o seu dever, sem a voz, o olhar, a presença de alguém que o faça ter um decisão parcial; porque quer respostas; sei lá, para rezar. O homem que se bateu e que perdeu, que está só, como habitualmente acontece a quem é derrotado, mas que na sua solidão e derrota, está como sempre esteve: pronto para se bater pela causa justa, por muito que lhe custe os sacrifícios de que com esta se viu privado. O homem que, na sua solidão, pensa o seu combate findo, e que medita sob a incapacidade que teve e o vencer, e até se a derrota não se deveu a erro seu.
Por isto - e só por isto escrevi o texto acima - fiquei seriamente entusiasmado com a capa do livro Rafael Argullol, O Herói e o Único. O Espírito Trágico do Romantismo. Nele se reflecte o Herói Romântico, ontem e hoje.
É sem dúvida, um livro que quero ler!
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