sábado, 30 de abril de 2011

Joseph Conrad


«- Sim. Porque não?
Estas palavras, proferidas com ligeira petulância, deixavam entrever o desejo caprichoso de uma mulher amada, caprichoso apenas porque se toma por lei, ocasionalmente constrangedor e sempre dificíl de evitar.
- Porque não? - repetiu ele, com ligeira ironia, como se ela lhe tivesse pedido a Lua. Só que agora sentia-se um pouco irritado com ela, com a volubilidade feminina que tão facilmente se despe de uma emoção como de um elegante vestido de noite.»

[Conrad, Joseph, O Conto, 1902]

Um Silêncio a dois

Ela calou-se. Ele também.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Dúvida Metódica


Não sei o que é o amor.
Não sei o que é estar bem para a idade.
Não sei o que é estar careca de saber.
Não sei o que é ter cabelo aos 70.
Não sei quem és tu, o que foste,
De onde vieste, ou porque partiste.
Não sei se é para baixo ou para cima.
Não sei o caminho para casa dessa velha tia.
Podemos ir por cima.
Para ser diferente,
Para variar.
Mas o que são estas sete colinas?
E porque nunca as fui visitar?
Há tantas coisas por fazer nesta vida.
Porque nunca as pude experimentar?
Que esperança temos nós de conhecer o mundo?
Pessoas, livros, tudo.
Tudo é passageiro!
Tudo é efémero, mas verdadeiro.
E o que é a verdade?
Essa antiga e distante quimera da vaidade?
Eu sou melhor que tu. Porquê?
Porque sei mais;
Porque provei o sabor da Verdade ainda antes dos teus pais.
Porque eu vi o que não inventei,
Mas que sei e soube muito antes de ti.
Porque fui o primeiro e estou mais perto desse Jardineiro
Que plantou o Éden que abandonámos.
Enfim, cegamos por verdades, perdemo-nos nas eternidades,
Que não dizem nada do que sou ou poderei ser.
Inscrevem-me na carne a escravidão,
A uma perseguição de um sonho,
E, assim, privam-me da construção.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A Fundação

O relógio indicava 11:33.
- Acorda, pá! Faltam 10 minutos para a fundação de Portugal!

terça-feira, 26 de abril de 2011

O Silêncio


Estamos sozinhos neste quarto, eu e tu. Não há mais ninguém. E duvido mesmo que algum de nós esteja por nós acompanhado, tão distantes que estamos um do outro. Estamos sós, miseravelmente sós, solitária mente sós. Arrisco, porque na encruzilhada e na crise, alguém tem que ceder, alguém tem que começar por dar o braço a torcer. Arranco. Porque sem atacar, ninguém pode vencer. E assim faço.
Digo-te que te amo. Peço-te perdão. E apresento os meu serviços e toda a minha prontidão para te servir, para me sujeitar aos teus desejos e caprichos, à dor que tu, por força dessa amargura venenosa que alimenta a vingança, teimas em infligir-me. "Amo-te", repito, mas tu nada dizes. E eu explico-te, com a paciência do condenado arrependido que deseja perdão, "se soubesses como , por vezes, o silêncio fere mais que algumas palavras afiadas, e pronunciadas para matar - o teu silêncio é, verdadeiramente, um silêncio de morte".

(Imagem afanada aqui)

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Cravos Murchos


Passados 37 anos, os senhores constataram que os cravos murcharam.
E porque não há dinheiro para a festividade, e para acabar com a precariedade, podiam dedicar-se à jardinagem...

domingo, 24 de abril de 2011

Natureza Humana

Pela boca morre o peixe,
Dizia ela, com razão.
Mas que choque causa tudo isso?
E porquê tanto escândalo e confusão?
A identidade é o equivoco, a contradição.
Nada há de mais mais irreal e provocador de desilusão,
Que desconhecer que a coerência não passa de uma mentira
Para camuflar o coração.

E foi por conhecer a nossa errância,
Para que ela não ditasse como palavra final,
Que há 2000 anos atrás,
Um Homem chamado Jesus,
Não negando o que vivia para afirmar,
Morreu subindo à cruz
Para nos salvar.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Ecce Homo

quinta-feira, 21 de abril de 2011

A Máquina de Escrever


Eis a máquina de escrever. A minha máquina de escrever. A máquina de escrever dela, porque é nela que escrevo para ela.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Funeral


Na sala lânguida, lúgubre e muito britânica, o sujeito de bigode branco e fraque, perguntou ao pequeno jovem bem parecido que acabara de entrar:
- Então, como foi o funeral?
- Normal - disse com displicência - Abriu-se um buraco no chão, e enterrou-se o corpo.
E mordera raivosamente um éclair que retirara de um tabuleiro de um empregado que passava.
A banalidade com que tratava a morte era tal que falava dela como quem bebia uma imperial. Causava choque, horror, alguns arrepios, mas fazia parte do seu modo de estar, do seu género, da sua rudeza.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Ver o Mar


Desço a rua solitário, como sempre. Lá em baixo, sob as casas que se sobrepõem em socalcos, vejo o mar.
Assim é Lisboa. Por entre ruas e ruelas que se estendem pelas sete colinas e se precipitam sobre o Tejo, vamos deambulando, como quem busca encontrar-se, e, perdido em pensamentos efémeros sobre o sentido da vida, encontro-te, Esperança, nesse manto da cor de certos limos do mar, onde descansam muitos dos que perderam a vida para que se ganhasse Portugal, como se tu contivesses a salvação do mundo, da humanidade, enfim, do meu tormento.
Não sou marinheiro. Nunca naveguei. Talvez por isso acredite tanto em ti. Porque só colocamos tanta esperança no que não conhecemos, porque desconhecemos as limitações de que padece.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Amor em Abstracto

Ela diza-me que nunca na vida sentira isto, que nunca gostara assim de ninguém.

domingo, 17 de abril de 2011

Drummond de Andrade


«Ás 9 da manhã, pelo telefone, comuniquei-me com a secretaria da Faculdade de Medicina. Expus o objecto da consulta, de maneira a não deixar dúvida: procurava o endereço da senhorita Andréia de Poggia (era o nome da carteira) para restituir-lhe uma bôlsa, NÃO PARA ISSO ASSIM ASSIM.»

          [in Carlos Drummond de Andrade, A Bôlsa & a Vida, Editôra do Autor, Rio de Janeiro 1963, pág.12]

Resultado Final

Dizia ele:
- Não executo vinganças. Só faço justiça.
- Sim - respondi-lhe - mas eu creio que a justiça é a melhor das vinganças...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Simplício Costa


«Ela até fala português, que é uma coisa que poucos portugueses falam.»

[in Athur Duarte, O Costa do Castelo, 1943]

Promotion!

Um homem subiu na vida quando deixou de fazer propostas e passou a fazer afirmações.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Como será com o FMI?

Revisitando cardernos e notas de outros tempos, reencontro-me com uma breve glosa a uma notícia publicada no Público de 11/06/2010, na página 13, onde havia um pequeno balanço sobre os 25 anos de adesão à CEE. A jornalista, Teresa de Sousa, escrevia "hoje, continuam a ser raras as vozes que se atrevam a dar nota negativa à integração europeia."
E qual era a opinião que servia de sustento a a esta afirmação? As declarações de Miguel Relvas, Paulo Rangel e António Vitorino.
Cá para mim, isto é ilustrativo dos dois mundos distintos e coexistentes em que vive o poder político e o povo. Porque certamente se a recolha de opiniões fosse, a título de exemplo, feita no Metro de Lisboa, a resposta deveria divergir.
Mas isto, é só um "suponhamos"...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Cornologia

Cornélio é nome de corno. E apesar do seu nome de baptismo ser Albano, todos o tratavam por Cornélio. Isto, claro está, por sua mulher padecer dos mesmos vícios que a sua mãe. Porque parecenças com o seu suposto progenitor, mais que essa, não tinha.


Forza Silvio

Inicia-se o julgamento. Vejo o telejornal, e atento a uma mulher que se insurge perante uma manifestação de apoio a Berlusconi. Ocorre-me subitamente o pensamento: «certamente esta não deve ter dormido com ele...»

domingo, 10 de abril de 2011

Caramba!

Desta nem se lembrava o Professor Karamba!

sábado, 9 de abril de 2011

Classic Mood

Os Clássicos sê-lo-ão eternamente? Não sei. Mas Puccini, para mim, será eterno. Não sei que alma têm os grandes génios da humanidade. Sempre os pensei infelizes, como aqueles homem a quem meio mundo deve e ninguém lhe paga. A diferença é que no caso dos Clássicos não é só meio mundo que está devedor. É a humanidade inteira. E eu sou parte dela.
Que bom este mundo, onde se provam prazeres impagáveis sem ter que pagar por eles.
Adoro Puccini, e a sua música que nos põe a alma a dançar. Porque ninguém lhe fica indiferente. Porque é impossível ficá-lo. Porque quando Lauretta, com a sua célebre ária O mio babbino caro consegue amolecer o coração do pai, o condenado por Dante, Gianni Schicchi (lê-se Sequiqui), Puccini consegue amolecer o coraçao de qualquer pessoa.
Estranha esta universalidade, universalidade que define os Clássicos, esses homens que inscreveram o seu nome num território que todos partilhamos, indo ao encontro do que de comum há em nós - eles, mais que ninguém, sabem o que somos e do que somos feitos.

Scarlett O'Hara


"I'd dance with Abe Lincoln himself tonight!"

[in Victor Fleming, Gone with the Wind, 1939]

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Chegou a Febre da Praia

O Sol abunda. E ela queimou a bunda!

Mulheres

Periferia era uma mulher que preferia a prefeitura à perfeição.

Num autocarro

- Tou. TOU! QUEM FALA? QUEM? PAULINHA? OLÁ PAULINHA, É O AVÔ. QUERES FALAR COM A AVÓ? ESTÁ BEM. JÁ TE PASSO.
-Querida, olá, vamos para Fanhões.
Momento de Silêncio.
- Quê? Também querias vir? Olha agora, atão? ATÃO? Ontem liguei-te, mas tu não RESPUNDESTES!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Mulheres

Nenhuma mulher gosta do homem perfeito. Só gostam do Prefeito.

So when the fight is over, And the storm is through

Ele pensava na sua inocência: "nunca haveremos de discutir. Nada há que nos torne belingerantes". Mas enganava-se. Como se engava quase sempre quando pretendia fazer planos sobre o decurso da vida. Ignorava, no entanto, que o problema não são as discuções. O problema é desistirmos por causa delas; é deixarmos que elas se superiorizem e apaguem tudo o resto.


quarta-feira, 6 de abril de 2011

Bacantes Paradoxais

Eu gosto muito de beber, mas já não vivo sem a Lei Seca.

Mulheres

Quando uma mulher te chamar perfeito, assusta-te: certamente te irá deixar.
Nenhuma mulher gosta de um bom homem. Ainda para mais se for perfeito...